
A perceção de que é necessária uma vigilância mais apertada tem vindo a conquistar adeptos ao longo das últimas décadas, decorrente sobretudo das alterações introduzidas ao modus operandi da criminalidade organizada. Ataques terroristas como os que têm vindo a ocorrer em todo mundo desde o ataque às Twin Towers e, mais tarde, em Londres (2005), Paris, Bruxelas, Nice e Estrasburgo não só sugerem que a criminalidade está a aumentar, mas também que, em vez dos islamitas radicais, aqueles que nos atacam atualmente são pessoas “como nós”, que vivem na porta ao lado. Consequentemente, já não são apenas as forças policiais as responsáveis por procurar garantir a segurança dos cidadãos; antes, a ideia generalizada é que cabe a todos os cidadãos vigiar o próximo e fazer aquilo que estiver ao seu alcance para evitar a criminalidade, materializando-se naquilo a que Garland (2001) designa por “sociedades de controlo”. É nestas sociedades de controlo que surgem grupos de “vigilantes” como o Dark Justice e o TRAP, no Reino Unido, que perseguem cidadãos suspeitos de serem pedófilos, acabando por destruir as vidas de pessoas muitas vezes inocentes. Paralelamente, também as instituições legais têm vindo a aperfeiçoar os mecanismos de controlo e vigilância, por exemplo através de escutas telefónicas. Nesta sessão recorremos ao paradigma das ciências forenses, e especificamente à Linguística Forense, para discutir alguns dos desafios éticos com que se debate a investigação científica e policial. Uma vez que a Linguística Forense, que consiste na análise da linguagem utilizada por suspeitos em contextos forenses, permite, por exemplo, verificar quem é o verdadeiro autor de um texto suspeito, traçar o perfil sociolinguístico de um texto anónimo (qual a sua faixa etária, nível educativo, classe social, etc.), investigar casos de plágio, entre outras, as possibilidades de anonimato dos falantes de uma língua são drasticamente reduzidas. Impõe-se, por isso, garantir a utilização desta análise apenas para fins legítimos. Recorrendo a casos de cibercrime, discutimos a aplicabilidade de bases de dados de perfis linguísticos, terminando com uma discussão dos limites da investigação no cumprimento os mais fundamentais direitos humanos.
Workshop “Crime and Memory – Language as a Narrative of Memory”
28 de Outubro de 2019. 11h00. Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho.
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